ÉPOCA ? Quando a doença passou a incomodar?
Claudia ? Foi por volta de junho de 2009. Passei a sofrer problemas de memória durante as gravações de A diarista. Eu nunca tinha problemas para decorar textos. Me passavam em cima da hora, eu ia lá e fazia. Nunca tinha pedido texto no meio da gravação. O esquecimento me abateu. As gravações foram interrompidas. Fiquei chateada.
ÉPOCA ? Como a doença a afetava?
Claudia ? Não conseguia nem falar, né? Eu falava era um "blã, blã, blã". Eu tinha dificuldades para andar. Agora estou andando melhor. E a memória, né?
ÉPOCA ? Como foi interromper a carreira?
Claudia ? Foi muito complicado. Eu sou formada em educação física, dei aulas por três anos. Não sinto muitas saudades. Me descobri atriz. Não sei fazer outra coisa. Minha mãe até perguntava se eu iria ficar parada em casa. "Mãe, eu só quero atuar." (Silêncio.) Fico chateada. Não tinha costume de ficar em casa. Agora fico muito tempo aqui.
ÉPOCA ? Como era sua rotina nos primeiros meses?
Claudia ? Não era nada. Ficava o tempo todo em casa, montando quebra-cabeça e cuidando da minha filha (Iza, de 8 anos).
ÉPOCA ? O que mais você fazia?
Claudia ? Quando era criança, eu tinha mania de passar trotes. E voltei a passar. Eu digo que hoje é dia do Mc Lanche Feliz e pergunto à pessoa qual a loja mais próxima. Aí eu falo, falo, falo, falo... Liguei para algumas amigas que diziam com um "não posso" ou eram grosseiras. Eu chamava de sem coração. Alguns desligavam na minha cara. Era minha onda passar trote. Eu esculachava geral quem não comprava.
"Eu vejo televisão e penso: 'Por que não estou lá?'.
Não quero tomar o papel de ninguém. Só quero atuar"
ÉPOCA ? Você não sentia vontade de sair de casa?
Claudia ? Não. As pessoas me chamavam, mas eu não saía. Minha mãe me mandava para a rua. Eu dizia "não quero, para quê?". Todo mundo vira para você e pergunta "quando você volta?". "Já, já", eu respondia. "Mas quando?" "Meu amor, não sei quando, mas já já, eu estou em tratamento e..." "Ah, minha tia também sofre desse problema, sabia?" "Ah, manda um beijo para sua tia." É chato. Como eu não quero ser grossa, prefiro não sair.
Sempre tem alguém para te botar para baixo. Eu entrei no Facebook, mas quero sair. Vem alguém e escreve "conheço uma igreja, queria muito que você fosse...". Outro me pergunta se eu conheço Jesus... sim, conheço Jesus. Minha mãe é católica e eu estudei em colégio batista.
ÉPOCA ? Como é ficar sem atuar?
Claudia ? Eu vejo televisão e penso: "Por que eu não estou lá?". Não quero tomar o papel de ninguém. Só quero atuar. Depois que você sai do foco, as pessoas te esquecem.
ÉPOCA ? E o tratamento?
Claudia ? Eu fiz em São Paulo. Logo eu, que sempre fiz piada de São Paulo, uma cidade com muita gente, prédio pra caramba, com pessoas que falam mal de carioca... (a agente, paulistana, faz cara feia). Não adianta fazer essa cara, não (risos). Me consultei com o doutor Charles Tibery, do (Hospital Albert) Einstein. Eu falei: "Meu cérebro não está bom, né?". Ele disse que não. "Então tchau", respondi. Ele disse: "Tchau, não. Você vai ficar aqui uns dias". Comecei a tomar o natalizumabe (medicamento) e melhorei muito.
ÉPOCA ? E hoje, você acha que está boa?
Claudia ? Minha memória está bacana. Coisas de que eu não lembrava, como números de telefone, agora eu me lembro. Outro dia lembrei da minha matrícula da faculdade. Eu me sinto bem.
ÉPOCA ? O que pretende fazer agora?
Claudia ? Se Deus quiser, sexta-feira vou ao Projac e gravo uma Ofélia. Tomara que seja a primeira de muitas.
ÉPOCA ? Ansiosa?
Claudia ? Mais ou menos. Quero voltar a interpretar e fazer bem o papel.
ÉPOCA ? Alguma insegurança?
Claudia ? Não.
ÉPOCA ? Você ensaia em casa?
Claudia ? Não.
ÉPOCA ? Alguma personagem que você viveu lhe serve de inspiração?
Claudia ? A Thalía (da Escolinha do Professor Raimundo, que tinha o bordão "vou beijar muuitoo"). Ela é uma mulher que eu queria ser. É péssima, mas se acha "a" mulher. Ela tem uma autoestima muito forte.
A Marinete (protagonista de A diarista) é muito correta, muito honesta. Não que eu não seja honesta! (Risos).
Fonte: Revista Época